No dia marcado pelas comemorações dos 329 anos de Curitiba, a capital paranaense perde um de seus maiores agitadores culturais. Morreu na manhã desta terça-feira (29), Geraldo Magela Cardoso, de 66 anos, criador e coordenador da Feira do Poeta, do Largo da Ordem, espaço voltado para a literatura paranaense há quatro décadas. O escritor mineiro estava em casa e sofreu um infarto enquanto dormia.

O velório acontece no Cemitério Municipal São Francisco de Paula, nesta terça a partir de 17h. Nesta quarta (30), o corpo será levado para o cemitério de Guaraciama-MG, cidade natal do artista.

Com mais de 15 livros publicados, o poeta conversou com a CBN Curitiba em 2019. Naquela entrevista, Magela lembrou como foi o início da Feira do Poeta, em 1983.

Na dificuldade de lançar livros nos anos 1980, os poetas publicavam versos em folhas soltas, impressas em um tipógrafo, como recordou Geraldo.

O primeiro livro do poeta mineiro, Bendita Boca Maldita, foi lançado em 1982. Ativista do movimento negro, Magela apresentou no ano seguinte Os Calombos dos Quilombos. Na década de 1990, escreveu a peça teatral Welcome to Curitiba – Capital do Freezer. Nos últimos anos, também se dedicou ao conto.
O escritor que faleceu nesta terça-feira produziu espetáculos musicais, especialmente no Teatro Universitário de Curitiba (TUC), na galeria Júlio Moreira, próxima a Feira do Poeta.

Urubuservando, poema de Geraldo Magela Cardoso:

“Sou seu urubu rei
Ave de rapina em franca extinção
Atrás de banquete sempre irei
Do lixo luxo e as doenças evito a disseminação
Não trago augúrio e tampouco desgraça
Em terra santa ou beira de rio
Meu almoço é a sua nobre carcaça
Vivo em bandos a revoar

Sentinela urubuservadora da carniça
Minha asa se abre a frufrulejar
Em cima da tripa ou o podre da linguiça
Vivo sem rumo no rumor da morte
Nas garras levo seu fígado, o duodeno e o baço
Minha asa é um véu negro
Vivo da putrefação e do martírio
No meio ambiente eu sou íntegro
O gosto e o desgosto são meu delírio
Enfim o funeral e os olhos pressagos
Dum corpo vivo agora extinto
De ossadas em ossadas entre lagos
O fedor e a náusea é meu instinto”.