Nesta segunda-feira (15), o vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Edson Fachin, pediu para que a Comissão Nacional de Soluções Fundiárias do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) faça intervenção nos conflitos entre indígenas e fazendeiros na região de Guaíra, no interior do estado.

Na decisão, o magistrado indicou que a intervenção é urgente para preservar a integridade das pessoas que vivem na área. Na semana passada, quatro pessoas, sendo três indígenas, ficaram feridas após um ataque a um grupo originário que vive na região. O local passa por uma disputa territorial e está em processo de demarcação.

Na cidade, 30 policiais e 10 viaturas atuam para tentar conter o conflito entre os indígenas do grupo Avá-Guarani e moradores da região. A informação foi divulgada pelo Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) que determinou, na semana passada, o envio da Força Nacional para o local com o objetivo de conter a disputa territorial que acontece na área.


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Em entrevista à CBN Curitiba, o assessor jurídico do povo indígena, Verá Yapuá, disse que a medida foi recebida com entusiasmo pelos povos originários na região. A expectativa é de que a participação do CNJ na questão possa diminuir a violência registrada nas últimas semanas.

Durante a confusão, que aconteceu na última quarta-feira (10), três indígenas ficaram feridos após serem baleados por um homem ainda não identificado. Segundo o Ministério dos Povos Indígenas, a ação foi coordenada por fazendeiros da região. Em dezembro, indígenas teriam retomado o local, o que causou novos conflitos com pessoas que também vivem na área.

A Polícia Militar do Paraná informou que dois indígenas, sendo dois homens de 51 e 33 anos, e uma mulher, de 40 anos, ficaram feridos na aldeia. Dois deles precisaram ser encaminhados para a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da cidade e um segue internado após passar por cirurgia, mas passa bem. O autor dos disparos fugiu e não foi localizado até o momento. A Polícia Federal investiga o caso e acompanha os desdobramentos da situação.

Um homem de 53 anos, que vive na região, chegou a ser feito refém. Ele seria morador de uma residência que foi invadida pelo grupo de indígenas após o ataque. A Polícia Militar informou que ele foi liberado após negociações e levado para atendimento médico com ferimentos. O estado de saúde dele não foi divulgado. Segundo o assessor jurídico dos indígenas, a situação no momento é de calma.

O secretário de Estado de Segurança Pública, Hudson Leôncio Teixeira, esteve na cidade na quinta-feira (11). O objetivo da viagem era compreender a gravidade do caso e possibilitar a reintegração de posse ou restabelecimento da ordem. O Batalhão de Polícia de Fronteira (BPFron) acompanha o conflito que também se estende até a cidade de Terra Roxa.

A professora da disciplina de Relações Étnico-raciais Africana, Afro-brasileira e Indígena do Centro Universitário Internacional Uninter, Karina da Costa Santos, que é indígena, comentou sobre o caso. Para ela, esses constantes conflitos relatados em todo o país são reflexo do processo de colonização do Brasil.

A professora avalia que o poder público ainda é ineficiente diante dos confrontos existentes nas regiões onde há povos originários. A falta de compreensão gera a violência contra os indígenas, o que, sem o apoio do governo, pode causar graves danos à integridade dos grupos que vivem nessas áreas de confronto.

Os militares do BPFron, durante os primeiros atendimentos, afirmaram ter sido recebidos com ataques de arco e flecha. Mas após obterem autorização para entrar na aldeia, conseguiram resgatar o homem que era feito refém. O clima de hostilidade na região se mantém diante da disputa pela área. O local onde mora o povo indígena foi retomado em 21 de dezembro. Em 23 e 24 do mesmo mês, outros ataques foram registrados no local.