Na Coluna “Sexta é Dia de Cerveja” desta semana, confira os principais mitos envolvendo a bebida com o o jornalista e sommelier de cervejas Luís Celso Júnior.

Cerveja é tudo igual
Se você viveu nesse planeta nos últimos dez anos, percebeu que isso não é verdade. Ao longo dos cerca de 10 mil anos de história da nossa querida bebida, ela se desenvolveu em diferentes tradições e culturas, gerando mais de 150 estilos de cerveja diferentes que estão sendo resgatados hoje em dia. Cada um com sua cor, aroma e sabor próprios.

Existe uma cerveja de gás Hélio
Não, não existe! Trata-se de uma das pegadinhas de 1º de abril mais famosas da internet. O vídeo foi feito pela Samuel Adams e rapidamente viralizou. Nele, dois degustadores experimentam a Heliyum e acabam falando com vozes finas – como aconteceria se respirassem o gás de balões. Anos depois, a cervejaria repetiu a pegadinha em um novo vídeo. Tecnicamente, seria quase impossível dissolver o gás Hélio em uma cerveja já que a pressão necessária seria absurdamente alta (mais de 180 psi).

Uma cerveja é melhor que outra por conta da água de determinada região
As marcas variam conforme a região do Brasil, mas sempre há alguém que diga que tal cerveja é melhor por conta da água do local da fábrica. Bem, isso já foi verdade há muitos e muitos anos atrás. Em 1842 a Pilsen foi inventada na cidade de Plzen, na República Checa, justamente por conta da água pouco mineral da região, por exemplo. No entanto, hoje em dia há uma tecnologia de tratamento tão avançada e acessível que o mestre cervejeiro pode “fazer” a melhor água para sua receita na própria fábrica, “filtrando” ou dosando sais minerais.

Quando o álcool é colocado na cerveja?
Muita gente faz essa pergunta. Então é bom esclarecer: o álcool não é colocado na cerveja, mas sim produzido na própria bebida por meio da fermentação. Nesse processo, a levedura – um microrganismo unicelular da família dos fungos – “come” os açúcares que estavam contidos no malte e transforma em álcool.

Puro malte é melhor
Pela atual legislação, o termo puro malte só pode ser empregado para cervejas que tenham obtido 100% dos açúcares necessários para sua feitura a partir do malte de cevada. Ou seja, esse termo garante apenas que não foi utilizado outro malte ou outro cereal na sua composição. Se por um lado isso é bom – o consumidor pode escolher o que quer beber –, por outro não garante qualidade. Existem muitos outros aspectos que influenciam, desde a qualidade desse malte e das demais matérias-primas, até inúmeros processos durante a fabricação. Ou seja, podem existir péssimas cereja puro malte se houver um erro ou falta de cuidado na fabricação ou ótimas cerveja que não são puro malte. Por exemplo: cervejas de trigo são feitas com um grande percentual de malte de trigo e, por isso, não podem ser chamadas de puro malte.

Cerveja escura é doce (ou mais forte)
Aqui no Brasil nos acostumamos às cervejas escuras serem sempre doces por conta da Malzebier – um tipo de cerveja adoçada. No entanto, a maneira mais tradicional de fazer estilos escuros é por meio de maltes torrados, que trazem na verdade um amargor semelhante a um café sem açúcar. Da mesma forma, nem toda a cerveja escura é mais forte, no sentido de mais alcoólica. Algumas são super leves, como a Guinness, uma Irish Dry Stout de 5%.

Cerveja deve estar sempre estupidamente gelada
Primeiro é preciso dizer: a cerveja é sua e você bebe na temperatura que achar melhor. E não há nada de errado em tomar aquela American Lager bem gelada. É um estilo que quer principalmente dar refrescância. Agora, é preciso entender que se você gelar demais certos tipos de cerveja, perderá parte dos aromas. Como já explicamos, eles são compostos químicos voláteis que se tornam gás a partir de certas temperaturas e chegam ao nosso nariz. Por isso, cada estilo de cerveja tem uma faixa de temperatura indicada para o serviço.

O copo não faz diferença para beber cerveja
Se a cerveja é sua, você bebe no copo que quiser. Não há problemas nisso. E nunca deixe de apreciar um rótulo porque não tem o copo certo. Até copo de requeijão serve. No entanto, é preciso entender que certos formatos de copo melhoram consideravelmente a percepção dos aromas e sabores da cerveja. E por isso dizemos que são mais adequados, como explicamos aqui. O copo Weizen, por exemplo, é grande para caber todo o volume de uma garrafa de cerveja de trigo alemã, já que a levedura que fica retida no fundo da garrafa faz parte da cerveja e precisa ser servida junto. Além disso tem boca larga, o que facilita a dissipação dos aromas (esse estilo é bastante cheiroso) e é alto, o que acelera a cerveja ao virar na boca, aumentando a sensação de refrescância.

Os ingleses (ou alemães) tomam cerveja quente
Mentira. Como hábito, nós brasileiros gostamos da nossa cerveja bem geladinha. No entanto, nem todos os povos e culturas pensam dessa forma. Na Inglaterra ou Alemanha normalmente se bebe cerveja menos gelada, mas nunca quente. Dependendo do estilo, elas são resfriadas em diferentes temperaturas que normalmente variam de 4ºC a 18ºC.

Cerveja gela mais rápido quanto deitada
Na vertical ou horizontal, a quantidade de líquido e a espessura da embalagem são as mesmas. Como o que gela a cerveja é o ar frio da geladeira, também será a mesma área de contato. Ou seja, não faz diferença a posição da cerveja no tempo de resfriamento.

Cerveja engorda e dá barriga
Como explicamos por aqui anteriormente, a quantidade de calorias de uma cerveja é praticamente igual ao mesmo volume de um suco de laranja – que é considerado saudável. Portanto, beber uma cerveja não engorda. Mas você pode ganhar peso se tomar muitas, pois há um efeito cumulativo, igual ao que acontece com qualquer alimento. Até com o suco de laranja. Então, fique atento à quantidade, beba com responsabilidade, faça exercícios físicos e assim a cerveja pode participar de um estilo de vida saudável e equilibrado.

Cerveja em garrafa é melhor que em lata (ou vice-versa)
Não há diferença entre a cerveja que vai para a lata ou garrafa. Muitas vezes, elas partem de uma mesma fabricação, de um mesmo tanque. E se conservadas de forma adequada – em temperaturas baixas, longe da luz ultravioleta e na vertical –, não há uma que seja melhor que a outra.

A espuma da cerveja não tem função e é dispensável
Mentira. A espuma é parte da experiência da cerveja. Além disso, seja na bebida em garrafa, lata ou chope, ela exerce algumas funções: protege o líquido do ar, que pode gerar defeitos na cerveja; ajuda a manter a temperatura, já que é basicamente uma barreira de gás entre a temperatura externa e o líquido; e evita que os aromas se dissipem muito rapidamente, já que alguns se esgotam como tempo.

Cerveja não combina com comida
Muito pelo contrário. Cerveja e comida são ótimas juntas. Nossa gastronomia mundial é muito rica em sabores. E para combinar com tudo isso, é necessária uma bebida versátil e tão variada quanto. A cerveja é feita de quatro matérias-primas diferentes, que variam enormemente nos sabores que trazem para o produto final. Ou seja, para ter a harmonização ideal, basta escolher as cervejas para o prato ou o alimento correto para a bebida. E aqui explicamos como.