A ligação entre Foz do Iguaçu para a cidade de Paranaguá, a BR-277, é conhecida ainda por ser a via que liga oeste ao leste do Paraná. A rodovia é importante ponto de integração por onde estão algumas das maiores cidades do estado.

É por ela onde trafegam milhares de caminhões e carretas todos os dias transportando mercadorias e commodities. Ela também conta com um intenso tráfego de veículos leves entre o litoral e Foz do Iguaçu.

A rodovia é o único acesso do transporte rodoviário de cargas à cidade de Paranaguá, onde está localizado o segundo maior porto do Brasil, no qual mais de 60 milhões de toneladas foram movimentadas em 2023. Movimento intenso no porto e na rodovia.

Mas em meio à riqueza de manufaturas que saem e produtos que entram todos os dias pelo porto, os caminhoneiros que levam o progresso dividem espaço com uma rodovia repleta de relatos de acidentes, buracos, congestionamentos e insegurança.

Em um país no qual os trens perderam espaço para os automóveis, o transporte de carga viu boa parte do escoamento de produtos ser transferido dos vagões para as carretas. No século XX, a ligação entre o interior e a capital passou a exigir um novo caminho para um dos maiores portos do Brasil.

Os primeiros estudos começaram na década de 1940, mas foi apenas na década seguinte que as obras iniciaram. A inauguração apenas aconteceu em 1968, porém ainda incompleta. A ligação, duplicada duas décadas depois, possibilitou o aumento nas exportações e foi um marco para o estado. Mas hoje, já não comporta a demanda e sofre com problemas de infraestrutura.


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O Pedro Rodrigues é caminhoneiro e viaja todos os dias entre a capital e o litoral. Ele conta que, nos últimos anos, desde o fim do pedágio, em 2021, a insegurança tem ficado cada vez maior. Os maiores problemas são os atrasos na viagem e a falta de estrutura adequada para comportar o tráfego.

Os dois anos em que a BR-277 ficou sob concessão do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) foram marcados pelo caos. Deslizamentos, buracos, congestionamentos e atrasos nos reparos. A expectativa por um pedágio considerado justo terminou em setembro do ano passado, com o leilão do Lote 2 de rodovias. O motorista de caminhão Volnei Sclemin ainda aguarda pelas melhorias.

As queixas de quem vive do transporte de carga esbarram diretamente nas crateras que se abrem com frequência no principal eixo de ligação do Paraná. Essa demanda precisa ser resolvida, segundo o também caminhoneiro Júlio Cesar de Paula.

O pedágio também é uma expectativa do motorista de caminhão Pedro Donizete, que passa sempre pela rodovia. O intenso tráfego de caminhões, como os que ele dirige, poderia diminuir com o surgimento de novas faixas de rolamento. A proposta, existente no edital da nova concessão, é uma das possíveis soluções para os congestionamentos.

Os transtornos também são os mesmos para quem precisa da rodovia apenas para viajar de carro. A dona de casa Simone Pickarski explicou que dividir o espaço com os caminhões em uma rodovia sobrecarregada exige prudência, e há outros problemas existentes, como buracos e a falta de visibilidade.

O aposentado Victor Cademartori também afirmou que os maiores problemas no trecho entre Curitiba e Paranaguá são o excesso de caminhões e os buracos. Para ele, a nova concessão de rodovias poderá aplicar novos investimentos para melhorar o tráfego, mas uma nova rodovia seria o ideal.

Solução proposta em um novo traçado para a rodovia, sugerido por um estudo realizado pela Federação das Indústrias do Estado do Paraná (FIEP), como conta o presidente da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná (Fetranspar), Sérgio Malucelli.

O estudo prevê um novo trajeto com túneis, semelhante ao da Rodovia dos Imigrantes, que liga São Paulo à Baixada Santista. Para Sérgio Malucelli, boa parte dos problemas existentes na BR-277 no seu trecho entre Curitiba e Paranaguá pode estar no seu traçado, considerado antigo.

O secretário de Infraestrutura e Logística, Sandro Alex, falou para a CBN Curitiba que o Paraná deve receber repasse de verbas do Governo Federal para realizar obras em rodovias, mas não especificou se elas serão aplicadas nos reparos emergenciais da BR-277.

O fundador do Fórum Nacional de Mobilidade, o Mova-se, Miguel Ângelo Pricinote, destacou que o tráfego intenso é um problema comum às rodovias que passam por trechos de serra. Mesmo duplicadas, os congestionamentos tendem a ser frequentes devido ao aumento do número de veículos nos últimos anos.

O engenheiro especialista em rodovias, Chrystiano Cavali, apontou que a rodovia foi um marco no desenvolvimento do Paraná. Porém, o crescimento populacional e do número de veículos nas últimas décadas não acompanhou a quantidade de obras para atender a demanda.

Na rodovia em que a vasta Mata Atlântica divide espaço com milhares de veículos todos os dias, a incerteza sobre o futuro ainda existe em um país no qual a burocracia disputa área com o progresso. Existem projetos e ideias, mas ainda não se sabe, ao certo, quando sairão do papel.

A CBN Curitiba tentou contato por telefone e e-mail com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) para saber quais ações emergenciais serão tomadas até o início ou a conclusão das obras previstas pelas concessões, mas não obteve resposta.