Um estudo realizado pela Rede Curitiba Climática apontou as áreas da capital onde há maior concentração de pessoas em situação de rua e em vulnerabilidade por conta das condições climáticas. O balanço, realizado em conjunto com uma Organização Não Governamental (ONG) direcionada ao apoio a pessoas desabrigadas, apontou que, em 2023, foram efetuadas 39,2 mil solicitações para atendimento a esse grupo.

Os números foram retirados dos atendimentos realizados na central 156 da prefeitura de Curitiba. Para evitar dados incorretos, a pesquisa retirou a duplicidade de ligações telefônicas. Foram analisadas 12 planilhas divulgadas pelo Executivo Municipal sobre os atendimentos realizados e os índices foram agrupados em categorias de abordagem social.

Dentre as áreas mais críticas estão os bairros Jardim Botânico, Rebouças, Água Verde, Boqueirão e Cidade Industrial. Mesmo assim, o Centro ainda concentra a maior quantidade de atendimentos. O representante da Rede Curitiba Climática, Murilo Noli, explicou o panorama dos dados coletados na pesquisa.

Dos registros obtidos, 27 mil são de pessoas desabrigadas e vivendo nas ruas; 8,7 mil de indivíduos caídos em via pública; e 3,3 mil de atendimentos de gente perdida, desorientada, desaparecida, alcoolizada, sob efeito de drogas e pedindo dinheiro em via pública. Os problemas climáticos ainda são um agravante para a população em situação de vulnerabilidade.

Para Murilo, que atuou na pesquisa, os números indicam o agravamento da situação da população de rua em Curitiba. O Centro contempla 8,9 registros de solicitações; Jardim Botânico, 5,6 mil; Rebouças, 1,9 mil; e Boqueirão, 1,6 mil. O representante do projeto afirmou que são necessárias ações mais efetivas na cidade.

A pesquisa indicou que o sistema de drenagem da capital é insuficiente para chuvas extremas, causando riscos, principalmente, em bairros como Alto da Rua XV, Centro e Bom Retiro. As ondas de calor prejudicam as áreas densamente urbanizadas. Já os riscos de deslizamento atingem bairros como Pilarzinho, Abranches, Cachoeira e Santa Felicidade.


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O levantamento apontou que, para as chuvas, é preciso repensar o escoamento da água. No caso do calor, há a exigência do aumento das áreas verdes. No caso dos deslizamentos, a pesquisa sugeriu a necessidade da preservação da vegetação nativa. Medidas necessárias que, segundo Murilo, podem evitar o avanço do colapso climático pela cidade.

O grupo defende a realização de políticas públicas emergenciais para que, até 2030 e, até 2100, os problemas climáticos não dificultem a vida da população curitibana. As ações de acolhimento dos moradores de rua, que estão mais vulneráveis às alterações climáticas, são fundamentais, segundo a pesquisa, e é preciso também planejar o futuro.

A Prefeitura de Curitiba, que foi procurada pela CBN Curitiba, se manifestou por meio de nota; confira na íntegra:

A Prefeitura de Curitiba oferece uma ampla Rede de Proteção Social, reconhecida pelo próprio Governo Federal, que desenvolve várias ações de forma integrada para beneficiar a população em situação de rua na cidade.
O trabalho é intenso e vai desde o Mesa Solidária até a oferta de pernoite em unidades de acolhimento ou hotéis sociais, disponibilização de cursos profissionalizantes e encaminhamento para o mercado de trabalho.
Uma política pública que busca resgatar esses cidadãos.

Mesa Solidária

Lançado em 2019, o Programa Mesa Solidária da Prefeitura de Curitiba já distribuiu mais de 1,2 milhão de refeições gratuitas a quem está em situação de risco social, como pessoas em situação de rua, desempregados e idosos carentes, em espaços confortáveis e com total higiene. Hoje, são quatro pontos: Mesa Solidária Luz dos Pinhais (Centro), Escola de Segurança Alimentar Patrícia Casillo (Jardim Botânico/Centro), Escola de Segurança Alimentar Dom Bosco (Campo do Santana), Escola de Segurança Alimentar Vila Agrícola (Cajuru) e Cozinha do Centro POP Plínio Tourinho (Rebouças).

Acolhimento

Simultaneamente aos programas de segurança alimentar do município, a Prefeitura mantém equipes nas ruas, que trabalham 24h por dia, para fazer abordagem social, ofertar serviços e encaminhar aqueles que aceitam atendimento para a rede de proteção.
Curitiba também reforçou o serviço de acolhimento, coordenado pela Fundação de Ação Social (FAS), atendendo diariamente cerca de 1,2 mil pessoas em situação de rua. A capital conta hoje com cinco hotéis sociais, uma república e mais 26 unidades de acolhimento (oficiais e parceiros), além de três Centros POPs, que ofertam atendimento técnico durante o dia. Juntas, as unidades de acolhimento somam hoje 1.611 vagas que contam com dormitórios, banheiros, sala de TV e refeitório.
Para acessar os acolhimentos do município, a pessoa pode procurar espontaneamente as casas de passagem ou ser encaminhada pelas equipes técnicas da assistência social, entre elas a do serviço de abordagem social.
As pessoas em situação de rua também são atendidas nos dez Centros de Referência Especializados de Assistência Social (Creas), localizados em todas as regionais da cidade, onde encontram apoio e encaminhamento para a rede de proteção.

Água e banheiro

A FAS está distribuindo água todos os dias, das 8h às 17h, em quatro pontos definidos pelo Ministério Público: Mercado Municipal de Curitiba, Praça Osório, Praça Tiradentes e Praça Rui Barbosa. Além disso, esses locais também contam com bebedouros.
A Urbanização de Curitiba (URBS) disponibiliza os banheiros públicos das praças Rui Barbosa, Osório e Tiradentes. O Mercado Municipal, vinculado à Secretaria Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional (SMSAN), também oferece livre acesso a banheiros. Para ter acesso, o morador em situação de rua precisa apenas se apresentar. Atendendo a determinação da Justiça serão fixados cartazes reforçando este direito, dentro do prazo estipulado.

Consultório na Rua

Na capital, as pessoas em situação de rua contam ainda com o Consultório da Rua, da Secretaria Municipal de Saúde, que percorre os bairros da cidade levando atendimento de saúde. Em dez anos de atividade, completados no último mês de junho, o projeto realizou mais de 36,5 mil atendimentos e milhares de ações de acolhimento a pessoas que vivem nas ruas da capital. Por mês, o Consultório na Rua atende aproximadamente 500 pessoas.
O serviço é desenvolvido por quatro equipes, com uma composição multidisciplinar que pode variar de acordo com a complexidade do trabalho a ser desenvolvido. As equipes são compostas por enfermeira, auxiliar de enfermagem, dentista, auxiliar de saúde bucal, médico, psicólogo ou terapeuta ocupacional e assistente social.

Qualificação profissional

O desenvolvimento pessoal e a qualificação profissional das pessoas em situação de rua também integram a estratégia do município para fazer com que esse público possa ter novos projetos de vida e deixar as ruas. Mensalmente, a FAS oferece cursos gratuitos do programa Liceu de Ofícios e Inovação, inclusive com turmas exclusivas para a população em situação de rua. Muitos cursos são realizados dentro das unidades de acolhimento para facilitar o acesso. Além disso, são realizadas ações encaminhamentos para o mercado de trabalho.