O incentivo às mulheres de negócios pode fazer uma grande diferença para a consolidação do empreendedorismo. Saber mais sobre o trabalho de uma pode se tornar a inspiração de quem está começando a trilhar este caminho. Este é um dos objetivos da Câmara da Mulher Empreendedora da Fecomércio-PR, que abriu portas há quase duas décadas para juntas forças e lançar cada vez mais mulheres no mundo dos negócios.

Nesta série especial, produzida pelos jornalistas Marinna Prota e Bruno de Oliveira, você vai conhecer histórias de mulheres que contaram com apoio e mostraram como é possível superar as adversidades para se destacar no mercado.

Câmara da Mulher Fecomércio: criada para incentivar iniciativas que abrem caminhos

Câmara da Mulher Fecomércio foi criada para incentivar empreendedorismo feminino. Imagem: CMEG/divulgação.

O Paraná tem mais de 560 mil empresas comandadas por mulheres, de acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC). O número representa 33% do total de empreendimentos do estado. Parcela importante da sociedade e ascendente em direitos e pioneirismo, elas começaram a ganhar políticas voltadas aos seus negócios há pouco menos de duas décadas.

Na Fecomércio Paraná, a criação da Câmara da Mulher Empreendedora (CMEG) chegou em um momento onde eram discutidas políticas de incentivo à presença delas nestes locais. Foi em 2006, incluindo milhares de paranaenses de pelo menos 22 pontos do estado, como revela Claudia Colpi, coordenadora estadual da CMEG.

As histórias contadas dentro de reuniões, que apresentam quais são as motivações, as ideias e as aspirações destas mulheres, demonstram que a realidade delas é comum em muitas partes. Casos de agressão, maternidade, dificuldade de recolocação no mercado, impeditivos que vem com o fato de serem mulheres são colocados como forma de combustível para se destacar, como relata Isolene Niedermeyer, que fundou a Magistral, empresa que entrou para o Guinness Book, o livro dos recordes, por ser a maior escola de lingerie do mundo.

A troca de informações passa pela experiência de Isonele, mas também pela visão de mundo de centenas de mulheres que vieram de diversas realidades. A coordenadora da Câmara da Mulher pontua que essa mistura é que leva à criação de novos negócios.

Foi assim que a Patrícia do Rocio Sprada Barbosa chegou até uma reunião promovida pela Fecomércio. Novata no empreendedorismo, ela queria informações para conseguir tirar a sua ideia do papel.

Mais de cinco mil mulheres de negócios são associadas à Câmara da Fecomércio. A instituição trabalha no mês de agosto com ações para fortalecer a presença delas no mercado, além de entender quais são as suas necessidades enquanto empresárias.

Câmara da Mulher Fecomércio: desacreditada por todos ela criou uma franquia de petshops e espalhou pelo Brasil

Patrícia tinha um sonho quando conheceu a CMEG e agora é dona de uma franquia de petshops. Imagem: Ecocão/Divulgação.


“Oi, eu sou a Patrícia e eu sou ‘gestante’ de um petshop, porque ele vai nascer daqui a algum tempo”


– Patrícia do Rocio Sprada Barbosa, empreendedora.

E ela nem imaginava como a vida mudaria depois disso. Pedagoga de formação, a Patrícia se deparou com o desemprego após 21 anos no mercado de trabalho. Focada na área da educação, viu a vida virar de cabeça pra baixo quando estava perto dos 50 anos de idade. Depois de passar nove anos na mesma empresa, perdeu o cargo de coordenadora e não conseguiu mais voltar para o mercado de trabalho convencional.

Ao ficar em casa, começou a cuidar dos seus dois cachorros. Foi quando ela percebeu o quanto os animais sofriam ao ir para o petshop. A dor dos seus bichos de estimação se tornou uma grande ideia. Ela decidiu realizar um curso de banho e tosa, com o objetivo de tirar o estresse dos seus pets. Mas o curso revelou um problema a ser resolvido no setor.

E por que não criar um espaço onde o bem-estar fosse uma das coisas importantes no banho e tosa? Com essa premissa, Patrícia decidiu abrir o próprio negócio. Mas enfrentou, de cara, a rejeição de pessoas próximas.

Bastante focada, precisou estudar bastante antes de abrir o empreendimento. Ela pesquisou como elaborar seu negócio, em quais áreas investir e aprendeu até mesmo sobre o comportamento dos animais, para diminuir o medo e o estresse deles durante o banho e tosa. Todo esse processo levou cerca de um ano e meio. E nesse período, a Câmara da Mulher Empreendedora da Fecomércio deu a força que ela precisava para conseguir investir na ideia.

De pedagoga a empresária, dona de um pet shop. Nem a própria Patrícia imaginava que sua vida profissional mudaria tanto. Ela relembra a primeira reunião, que aconteceu por acaso.

Há seis anos ela inaugurou o petshop, e a empresa se tornou uma franquia, a primeira do ramo sustentável do país. Patrícia tem nove lojas espalhadas por Curitiba, Cascavel, Rio de Janeiro, Goiânia, Fortaleza e Bonito. Com o sucesso, ela percebeu que a idade era apenas um número.

A empresária se tornou agora referência para outras empreendedoras que ainda têm o sonho de criar o próprio negócio. Foi homenageada pelo projeto e pretende seguir neste caminho junto com as filiadas da Fecomércio.

Câmara da Mulher Fecomércio: da violência doméstica para a mentoria de milhares de alunos

Isolene superou a violência doméstica e hoje é uma empreendedora de sucesso. Imagem: Magistral/Divulgação.


“Da agressão verbal começou a ter agressão física e aí eu me encontrei numa situação complicada. Eu resolvi fugir para não me casar, com 16 anos e com uma bebezinha no braço”


– Isolene Niedermeyer, 49, empreendedora.

Foi com essa força de vontade que a Isolene mudou de vida. Com 49 anos, conta que sua história como empreendedora começou com a necessidade. Ainda bastante jovem, foi obrigada pelos seus pais a noivar quando engravidou. Mas a chegada da maternidade revelou o início de outra difícil situação. Ela começou a viver um drama comum a cerca de 7 milhões e 400 mil mulheres, segundo números do Fórum Brasileiro de Segurança Pública: a violência doméstica. E a dificuldade piorou depois do parto.

Com 16 anos e uma bebê no braço, ela decidiu ir para longe para não ter que se casar. Graças a uma oferta de emprego, ela conseguiu sair da cidade onde sofria abusos para tentar uma nova vida. Mas novos problemas começaram a surgir.

Após perder a filha, conseguiu com a ajuda de amigos reaver a criança e seguir em frente. Mas aí, outra situação iria colocar em teste a persistência dela: como se sustentar.

Do pão de queijo para a costura. A partir dali ela descobriu um universo de possibilidades. Produzindo lingeries, ela descobriu que era possível ficar em casa junto da filha, produzir as peças e ganhar dinheiro. Mas o horizonte se expandiu. Ela decidiu ensinar outras mulheres a produzirem as peças por meio de cursos. Hoje, mais de 320 mil alunos aprenderam como a costura pode mudar vidas.

Com o empreendimento já aberto e com notoriedade na sua cidade, Isolene deixou de ser apenas empreendedora e se transformou em uma facilitadora, que doa seu tempo na Câmara da Mulher Empreendedora (CMEG) da Fecomércio-PR, como aponta Claudia Colpi, coordenadora estadual das câmaras.

Com a premissa de uma ajudar a outra, a empresária é mais uma entre as mais de cinco mil filiadas da CMEG.

Por: Bruno de Oliveira e Marinna Prota