A pandemia de Covid-19 afetou todos os trabalhadores, mas os impactos foram mais intensos para os negros, seja pela dificuldade que essa população enfrenta para encontrar colocação ou pela necessidade de voltar antes ao mercado de trabalho, devido à falta de renda para permanecer em casa, protegida do vírus. É o que revela um estudo do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE).

Segundo o economista do DIEESE, Sandro Silva, a desigualdade no rendimento médio desses trabalhadores, ausência do registro em carteira já é uma realidade antes mesmo da pandemia. Ele destaca que a questão interfere inclusive na economia, de forma geral.

No primeiro trimestre deste ano no Paraná, por exemplo, a taxa de subutilização da força de trabalho estava em 26,4% para as mulheres negras e 16% para os homens negros do Estado.

Sandro Silva, economista do Dieese explica que a taxa de subutilização inclui a de desocupação, a de subocupação por insuficiência de horas e a da força de trabalho potencial, pessoas que não estão em busca de emprego, mas que estariam disponíveis para trabalhar.

Entre o 1º e o 2º trimestre de 2020, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 8,9 milhões de homens e mulheres saíram da força de trabalho em todo o Brasil – perderam empregos ou deixaram de procurar colocação por acreditarem não ser possível conseguir vaga no mercado de trabalho. Desse total, 6,4 milhões eram negros ou negras e 2,5 milhões, trabalhadores e trabalhadoras não negros.

De acordo com Sérgio Luis do Nascimento, filósofo, doutor em Educação e professor do curso de Filosofia da PUCPR e especialista em discursos racistas e relações raciais, a pandemia somente reforçou um problema que é histórico. Ele comenta que a pesquisa do DIEESE é um retrato do racismo estrutural no Brasil.

A pesquisa do DIEESE revela ainda que para os negros, a taxa de desemprego é sempre maior do que a dos não negros. Enquanto para os homens negros, ficou em 13,2%, no 2º trimestre de 2021, para os não negros, foi de 9,8%. Entre as mulheres, a cada 100 negras na força de trabalho, 20 procuravam trabalho, proporção maior do que a de não negras, 13 a cada 100.