Um novo confronto entre indígenas e fazendeiros em Guaíra, no interior do Paraná, deixou seis pessoas feridas, sendo duas em estado grave, nesta quarta-feira (28). As informações foram divulgadas pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi).

Segundo o grupo, os indígenas teriam sido vítimas de um ataque de produtores rurais, que entraram na área com armas de fogo. A maioria das pessoas feridas é de jovens e mulheres. O ataque a tiros teve início na noite de terça-feira (27) e seguiu durante a madrugada.

Na área, localizada no oeste do estado, próximo da fronteira com o Paraguai, vivem moradores da terra indígena Tekoha Guasu Guavirá, que compõem o povo da etnia Avá Guarani. O local está sob disputa territorial.

Um motorista da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), órgão do Ministério da Saúde, compareceu ao local e levou os feridos até um hospital da região. Os fazendeiros atacaram os indígenas com tiros de espingarda.

Os fazendeiros seriam produtores de soja e milho. Nas redes sociais, jovens indígenas transmitiram o conflito pela internet. No vídeo, é possível ouvir disparos de arma e gritos dos moradores em meio à baixa iluminação do local.

Uma equipe da Força Nacional está na região para atuar no combate ao confronto e deve permanecer até 8 de novembro com o objetivo de realizar patrulhamento para garantir a segurança. A área está sob disputa judicial.

O Ministério da Justiça e Segurança Pública informou que a Polícia Federal iniciou as investigações para apurar a responsabilidade criminal dos envolvidos no conflito.

A Secretaria de Segurança Pública do Paraná (SESP-PR) disse estar acompanhando a situação e que a Polícia Militar esteve na área, mas disse que a responsabilidade da intermediação é do governo federal.

A pasta afirmou que desde o início do conflito reforçou o policiamento com equipes especializadas do Batalhão de Polícia de Choque, Batalhão de Polícia Militar da Fronteira e patrulhamento aéreo.

Em abril, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu uma ação para demarcação de territórios indígenas no Paraná. Por 9 votos a 2, os ministros decidiram, em plenário virtual, a favor de questionamentos contrários ao processo de regularização.

O julgamento dos ministros a favor dos agricultores derrubou uma decisão de Edson Fachin que, em janeiro, suspendeu ações que impediam a demarcação. Por conta disso, a área segue sem uma definição sobre quem pode ou não ocupar.

Na época, o assessor jurídico do grupo Avá Guarani, Verá Yapua, avaliou que os indígenas já temiam que a decisão pudesse acarretar novos episódios de violência. Em dezembro, três indígenas foram baleados durante um ataque.

O Paraná registrou, em 2023, pelo menos 11 mortes violentas de indígenas, segundo números divulgados pelo relatório de Violência Contra os Povos Indígenas do Brasil do Conselho Indigenista Missionário.

A professora de Relações Étnico-raciais, Karina da Costa Santos, apontou que o poder público não consegue resolver os conflitos do tipo existentes em várias regiões do Brasil, e medidas mais efetivas deveriam ser tomadas.

A delimitação da terra indígena em Guaíra foi publicada pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) em 2018, mas anulada pela própria Funai em 2020, durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

  • Matéria atualizada às 13h33.