Um jovem indígena de 23 anos, filho do cacique da Aldeia Yvyju Avary, foi encontrado morto com sinais de violência no município de Guaíra, no oeste do Paraná. Ao lado do corpo, as autoridades localizaram uma carta com ameaças dirigidas às comunidades indígenas da região e à Força Nacional de Segurança Pública. O crime aconteceu no sábado (12).
A ocorrência chocou a comunidade local e acendeu o alerta para a escalada da violência contra os povos indígenas na região. O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) manifestou “profunda preocupação” com o assassinato, classificado como bárbaro.
Caso é investigado
A Polícia Civil e a Polícia Federal investigam o caso. Desde as primeiras horas, a situação é acompanhada pelo Programa de Proteção aos Defensores de Direitos Humanos, Comunicadores e Ambientalistas, que atua em conjunto com autoridades locais e federais.
O objetivo, segundo o ministério, é garantir a segurança das lideranças indígenas e das comunidades ameaçadas, além de acompanhar as investigações para que o crime não fique impune. Atualmente, o programa acompanha 19 lideranças do povo Avá-Guarani no Paraná, grupo diretamente afetado pelas recentes ameaças.
Em nota, o ministério reforçou seu compromisso com a defesa da vida, da dignidade e dos direitos dos povos indígenas. Segundo a pasta, nenhuma ameaça silenciará a luta ancestral por justiça e por território. Para Karai Okaju, uma das lideranças locais, o clima é de insegurança.
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O ministério destacou que o assassinato expõe, mais uma vez, a vulnerabilidade das comunidades indígenas diante de conflitos territoriais e da violência na região de fronteira.
Vários confrontos com feridos têm sido registrados nos últimos anos em territórios que estão sob disputa entre agricultores e indígenas na região da fronteira com o Paraguai.
O impasse remonta à criação do lago da usina hidrelétrica de Itaipu, na década de 1970. Um grupo de trabalho foi criado pelo Tribunal de Justiça do Paraná (TJPR) para auxiliar na demarcação das áreas. Mesmo assim, indígenas afirmam estar sob ameaça.
Itaipu comprou áreas para indígenas
Um acordo homologado pelo Supremo Tribunal Federal (STF), em março, entre a Itaipu Binacional e representantes de grupos indígenas, repassou 3 mil hectares de terras rurais para 31 comunidades indígenas da etnia Avá-Guarani que vivem em cinco municípios do oeste do Paraná.
O investimento, de R$ 240 milhões, realizado pela própria hidrelétrica, possibilitou a compra de áreas em nome da União, destinadas às aldeias indígenas. Segundo a Itaipu, a iniciativa busca reduzir a falta de espaço e as condições precárias enfrentadas pelos grupos indígenas locais.
No entanto, representantes do setor agropecuário do Paraná classificaram o ato como arbitrário e afirmaram não terem sido consultados para esse acordo. O grupo informou que busca a impugnação da medida.
Caso semelhante aconteceu em março
Em março, três pessoas foram presas pela Polícia Federal suspeitas de envolvimento na morte de outro indígena, também no município de Guaíra, no Paraná. As prisões foram confirmadas pelo Tribunal de Justiça do Estado.
A vítima, pertencente à etnia Avá-Guarani, foi encontrada morta com sinais de violência em uma estrada rural que liga a aldeia à cidade. O corpo foi localizado em meio à vegetação, nas proximidades de um aeroporto.
De acordo com a Polícia Federal, os três homens presos também são integrantes do povo Avá-Guarani e vivem na região. A motivação do crime teria sido uma briga entre eles. Como as investigações seguem em segredo de Justiça, detalhes não foram divulgados.
Por não identificar relação entre o crime e os conflitos fundiários envolvendo indígenas e não-indígenas na região, a Polícia Federal remeteu o caso à Justiça do Paraná.








