O secretário de Estado de Segurança Pública do Paraná, Hudson Leôncio Teixeira, informou que o governador Ratinho Júnior (PSD) irá a Brasília discutir os conflitos entre agricultores e indígenas na região de Guaíra, no interior do estado. Na semana passada, três indígenas ficaram feridos após um ataque ao grupo Avá-Guarani, que vive na região.

Um homem de 53 anos, que mora em uma residência próximo de onde residem os indígenas, chegou a ser feito refém pelo grupo, mas liberado com ferimentos. Todos os envolvidos passam bem. O secretário indicou que os disparos teriam sido feitos por uma espingarda calibre 12 ou arma de caça. Até o momento, nenhum suspeito de efetuar os disparos foi preso.

A declaração sobre a reunião do governador do Paraná em Brasília foi dada durante coletiva de imprensa realizada em um encontro na cidade de Guaíra entre representantes do poder público e agricultores para debater soluções para o problema nesta quarta-feira (17). O secretário destacou que uma força-tarefa atua no local para evitar novos confrontos.

No município, 30 policiais e 10 viaturas da Força Nacional atuam em conjunto com o Batalhão de Polícia de Fronteira (BPFron) e Polícia Federal para impedir novos confrontos. O povo indígena Avá-guarani retornou ao local em dezembro do ano passado e, no mesmo mês, também foi alvo de outros ataques, segundo o Ministério dos Povos Indígenas.

O encontro do governador em Brasília será realizado junto do ministro de Segurança Pública e da bancada federal do Paraná, mas ainda não tem data para acontecer. A ideia é discutir o assunto e viabilizar novas soluções para os confrontos. Desde a chegada da Força Nacional a pedido do Ministério da Segurança Pública, no final da semana passada, nenhum ataque foi registrado.

O território, onde estão os indígenas, continua em fase de demarcação. Na segunda-feira (15), o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, pediu que a Comissão Nacional de Soluções Fundiárias do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) passasse a intervir nos conflitos entre indígenas e fazendeiros. Ele indicou que a medida era de urgência.


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Na terça-feira (16), o mesmo ministro determinou a suspensão de ações judiciais que travaram o processo de demarcação da Terra Indígena Tekohá Guasu Guavira, onde vivem os moradores do grupo Avá-guarani. Diante da dificuldade de uma solução para a questão, o secretário informou da necessidade do policiamento constante na área.

Durante a reunião realizada na Universidade Paranaense (Unipar), na cidade de Guaíra, o assessor jurídico da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (FAEP), Klaus Kuhnem, destacou a necessidade de se solucionar o conflito, mas ponderou que os territórios onde vivem os agricultores devem ser levados em consideração.

O prefeito de Guaíra, Heraldo Trento (União Brasil), defendeu, durante pronunciamento, o apoio da Polícia Militar no combate ao confronto que acontece na cidade. Ele criticou a medida de Fachin sobre as demarcações territoriais e apontou que é preciso realizar medidas administrativas, jurídicas e políticas para resolver a situação.

A professora da disciplina de Relações Étnico-raciais Africana, Afro-brasileira e Indígena do Centro Universitário Internacional Uninter, Karina da Costa Santos, que é indígena, apontou que o poder público não consegue resolver os conflitos do tipo existentes em várias regiões do Brasil. Medidas mais efetivas deveriam ser tomadas, segundo ela, junto de indígenas e não-indígenas.

O secretário reforçou ainda que o governo do Paraná segue em diálogo com a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) para que não haja violência na região. A delimitação da terra indígena foi publicada pelo órgão em 2018, mas anulada pela própria Funai em 2020, durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Segundo representantes do grupo indígena, desde a chegada da Força Nacional e da intensificação do policiamento por parte do Batalhão de Polícia de Fronteira (BPFron) e da Polícia Federal, o clima de hostilidade diminuiu na região e nenhum ataque foi relatado. Mesmo assim, o policiamento segue para evitar novos problemas.