Um grande empresário foi perguntado se era pessimista ou otimista em relação ao Brasil. Ele respondeu: “Prefiro ser otimista. Não conheço muitos pessimistas bem-sucedidos”. Será isso verdade? Claro que ser eternamente pessimista ou ser sempre otimista são duas formas de irracionalidade.

O sujeito que é pessimista descrente de tudo age mais em função de seu estado mental do que em razão dos dados reais. Já o sujeito otimista que acha tudo uma maravilha e não vê maldade nenhuma é ingênuo, acometido da “síndrome de Pollyanna”.

Em 1913, a escritora Eleanor H. Porter publicou um romance infantojuvenil intitulado Pollyanna, que se tornou um clássico da literatura. Na história, uma menina de 11 anos deixa sua cidade, após a morte de seu pai, que era um missionário pobre, para ir morar com uma tia rica e severa.

A menina Pollyanna passa a ensinar às pessoas o “jogo do contente”, que seu pai lhe ensinara, e consiste em procurar extrair algo de bom e positivo de tudo, incluindo dos eventos mais desagradáveis da vida.

A autora era presbiteriana e usava o jogo em seu trabalho de evangelização para ensinar que as pessoas devem cultivar a felicidade, o amor e o bem, mesmo nas situações mais adversas.

É uma mensagem bonita, mas se levada ao extremo, deixa a pessoa ingênua e indefesa diante dos males que há no mundo.

Em se tratando de um empreendedor, cuja decisão de investimento depende de conhecer o real quadro político e econômico, a arte de identificar os problemas e os males do sistema não é pessimismo, é realismo para que não sejam tomadas decisões erradas, cujo resultado pode ser a falência.

Noé, o personagem bíblico, se safou após o dilúvio por uma razão: ele resolveu acreditar no anúncio de Deus sobre a tempestade que viria e, com seu pessimismo, dedicou-se a construir uma arca no deserto, sob o olhar crítico daqueles que diziam que ele estava louco.

Eles viviam no deserto, onde podia acontecer tudo, menos um dilúvio capaz de fazer a Terra sumir debaixo d’água. Diz a lenda que Noé salvou a si, sua família e alguns animais por causa de seu pessimismo.

Estamos no Brasil de hoje tendo que escolher se somos otimistas ou pessimistas. Se agimos como Pollyana ou Noé, em relação ao Estado, aos governos e às instituições. O fato é que temos de fazer escolhas e tomar decisões, logo precisamos saber distinguir. Essa é a questão. Pense nisso!

José Pio Martins, economista, professor, palestrante e consultor de economia, finanças e investimentos.