Volto a falar do déficit público porque um ouvinte me perguntou: por que o déficit público é um problema? Se o governo gastar mais, os fornecedores do governo venderão mais, mais dinheiro circulará na economia e haverá mais emprego, então, onde o déficit prejudica às pessoas?
Como resposta, falei: se o governo gastar mais do que arrecada, ele só tem três meios de pagar os gastos que ficaram acima da receita.
1. O governo vai ao mercado e toma empréstimos para pagar o déficit de caixa. Se o PIB brasileiro ficar em R$ 10 trilhões e o déficit for 1,5% do PIB, o governo então precisará tomar novos empréstimos no valor de R$ 150 bilhões.
Nesse caso, a primeira consequência que fará mal a todos nós, empresas, trabalhadores e consumidores é que a taxa de juros aumentará. E com juros mais altos, você, eu e todos que precisam fazer compras a crédito ou tomar empréstimos serão prejudicados.
2. Digamos que o governo pague o déficit aumentando rapidamente os impostos para arrecadar os R$ 150 bilhões destinados a pagar o déficit, no exemplo que dei. Nesse caso, o dinheiro sai do bolso dos brasileiros, sai das empresas, de forma que pessoas e empresas gastarão menos.
Ora, se todos pagarem mais impostos, todos ficarão mais pobres e com menos dinheiros para seus gastos. Logo, não haverá o efeito benéfico de aumentar a demanda nacional, pois os consumidores não consumirão mais. Se João gasta mais do que ganha e seu déficit é pago por Pedro, é fácil saber que Pedro gastará menos.
3. Digamos que o governo nem tomará empréstimos nem aumentará impostos e pagará o déficit imprimindo dinheiro. Isso resultará logo em seguida em mais inflação. E aí, todos comprarão menos porque os preços subiram. A inflação é uma forma de imposto. E todos ficarão mais pobres e com menor poder de compra.
O filósofo Carlyle resolveu estudar economia e, após 10 anos de estudo, ele desabafou: “A economia é uma ciência melancólica”. Ou seja, ele percebeu que não há milagres nem vida fácil. Quando eu dava aulas para alunos em início de curso, eu dizia: aprendam uma coisa; não existe o milagre da multiplicação dos pães; o único que multiplicava os pães com um toque foi posto na cruz dois mil anos atrás; de lá para cá, a multiplicação dos pães só é possível com o prévio investimento em padarias.
No fundo, toda essa conversa de que se o governo gastar mais do que arrecada e fizer o déficit é uma prática benéfica para o país, pois o governo poderá fazer mais obras e ofertar mais serviços, é uma conversa com argumentos falsos.
Os argumentos não se sustentam, inclusive porque todos os países que fizeram déficits por longo período acabaram em crise gigantesca e cruel. O mundo está cheio de exemplos, incluindo nossa vizinha Argentina, que está impondo alto sofrimento à população com uma inflação de 140% ao ano, desemprego, pobreza e aumento de doenças mentais.
Pense nisso!