Quando eu era professor de Introdução à Economia, eu pedia para os alunos fazerem o seguinte exercício mental: imagine que você está num satélite lá longe no espaço com um telescópio observando o mundo aqui embaixo.

Você vê uma multidão de seres humanos trabalhando, produzindo e consumindo. Esta é a primeira entidade econômica: as pessoas.

Você vê também construções, residências, rodovias, ferroviais, prédios, escolas, hospitais, caminhões, automóveis, máquinas etc. São os bens de capital.

As pessoas usam os recursos da natureza e os bens de capital para produzir bens materiais e serviços. Isso se faz em uma unidade: a empresa.

Assim, duas grandes entidades econômicas são: pessoas e empresas. As pessoas têm dupla função no sistema: uma função é trabalhar e produzir, e a outra é consumir o que é produzido.

Continuando a observação, você perceberá que existe uma estrutura composta de pessoas e bens de capital que executa obras e serviços com o dinheiro que pessoas e empresas dão a ela, essa tal estrutura, que é uma espécie de síndico nacional. É a terceira entidade econômica: o governo.

Pronto: você acabou de construir o sistema econômico interno, que é composto de pessoas, empresas e governo. Empresa é qualquer unidade que reúna fatores de produção para produzir. Três entidades internas do país.

Mas, como o país vende parte de sua produção para outras nações e também compra alguma coisa de outras nações, surge uma quarta entidade chamada “resto do mundo”.

O sistema econômico é isso: pessoas, empresas, governo e resto do mundo. Pessoas e empresas correm riscos, precisam competir no mercado, submetem-se a diversidades e, se forem ineficientes, podem ter prejuízos e falir.

Já a entidade “governo”, essa não está sujeita a falência. Aliás, na própria legislação não existe a figura da falência jurídica de governo.

Você nunca viu alguém pedir, na Justiça, a falência de uma prefeitura, um estado ou do governo federal por causa, por exemplo, de uma dívida não paga.

O setor público pode ser ineficiente, esbanjador, desperdiçador e corrupto sem que isso implique quebrar, falir e fechar as portas.

Como 34% de toda a renda nacional é entregue obrigatoriamente ao governo por pessoas e empresas, um país somente consegue ser desenvolvido e sem pobreza se essa entidade, o governo, por ser grande demais e ser o regulador das atividades das outras entidades, tiver um mínimo de eficiência, racionalidade e ética. Do contrário, o normal é ser um país subdesenvolvido e pobre.

Por isso, o desafio nacional não é apenas melhorar a qualificação profissional das pessoas e melhorar a qualidade e eficiência do sistema empresarial.

O maior desafio é melhorar o governo em toda sua dimensão e facetas, inclusive, repito, porque é o governo que faz as regras sob as quais as pessoas e as empresas vão trabalhar, produzir, consumir e agir.

Pense nisso!