A busca por um atendimento em Saúde dentro do Sistema Único de Saúde (SUS) no Paraná, para uma pessoa trans, muitas vezes se torna um empecilho para que o paciente tenha uma vida plena. Mesmo com a criação de espaços como o Centro de Pesquisa e Atendimento a Travestis e Transexuais (CPATT), um dos dez serviços habilitados pelo Ministério da Saúde de Atenção Especializada no Processo Transexualizador na modalidade ambulatorial no Brasil, ainda existe a dificuldade para quem sofre com a disforia de gênero.

A ouvinte da rádio CBN Curitiba, Mayara Amaro, iniciou seu processo de transição há quase cinco anos, mas conta que ainda há muitos equívocos, falta de estrutura e sensibilidade com pessoas transgênero.

A moradora de Colombo sonha com a cirurgia transexuliazadora, quando poderá adotar integralmente o sexo com o qual se identifica. No entanto, vários desencontros de informação tornam a expectativa de conseguir realizar o procedimento pelo SUS no Paraná uma saga sem fim. Em maio deste ano, ela recebeu um encaminhamento da Unidade Básica de Saúde (UBS) de Colombo, para que fosse até o Hospital das Clínicas, em Curitiba.

Ficha de encaminhamento de Mayara Amaro, que iniciou seu processo de transição há quase cinco anos. Ela se queixa da falta de estrutura e sensibilidade com pessoas transgênero no sistema de saúde.

O local foi anunciado em 2017 como o sexto espaço destinado a cirurgias de afirmação de gênero no Brasil. Na ocasião, o governo chegou a dizer que buscaria o credenciamento da unidade junto ao Ministério da Saúde.

Mas, segundo Mayara, mesmo com o encaminhamento, chegando ao HC ela recebeu uma negativa.

Em nota, a assessoria de imprensa da Universidade Federal do Paraná (UFPR) responsável pelo Hospital das Clínicas informou que “não são realizadas cirurgias transexualizadoras dentro do HC. Temos capacidade técnica, porém a questão é muito complexa. Fizemos estudo de viabilidade e não temos linha de cuidado, com profissionais suficientes para os atendimentos de antes e depois do procedimento, então qualquer encaminhamento será devolvido”.

Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná, em Curitiba. Foto: UFPR.

Bruna Ravena, coordenadora do Comitê LGBTI+ do Paraná, explica que há dois tipos de procedimentos que atendem a população transgênero, mas que no estado, por enquanto, só um deles é realizado.

Presidente do Grupo Dignidade, Tony Reis disse que em razão das divergências ideológicas do último presidente, a busca por conseguir recursos e autorização para que o Hospital das Clínicas fizesse a cirurgia ficou parada, mas que é uma luta da comunidade e a situação passada por Mayara foi um ato de desinformação.

A reportagem da CBN Curitiba solicitou os dados oficiais sobre quantas pessoas aguardam pela cirurgia de mudança de sexo no Paraná e quais são as políticas publicas vigentes para atender aqueles que possuem disforia, mas até o fechamento desta reportagem não obteve respostas.

A prefeitura de Curitiba também foi procurada, já que em janeiro anunciou que foi aberto novos espaços para atendimento à população transgênera (transexuais e travestis), aumentando a capacidade de suprir as necessidades daqueles que buscam pela hormonioterapia. Apesar disso, a assessoria não conseguiu trazer dados do número de atendimentos realizados pelo espaço até agora e qual a sua capacidade.