A taxação de 50% imposta pelo governo norte-americano sobre a madeira processada brasileira tem causado muitos impactos no setor e já levou a milhares de demissões, inclusive no Paraná, além de gerar uma expectativa negativa entre as empresas. Foi o que apontou uma pesquisa feita pela Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), que ressaltou a falta de negociação por parte do governo brasileiro.


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A manutenção do tarifaço pode agravar a crise e as empresas preveem mais cortes de vagas nos próximos 60 dias, segundo a Abimci.
Somente uma indústria madeireira do Paraná, localizada na região dos Campos Gerais, demitiu 400 funcionários no início deste mês, colocou cerca de 1,1 mil em regime de layoff e deu férias coletivas para outros 1,5 mil trabalhadores. Tudo isso aconteceu após o anúncio do tarifaço, em julho, que entrou em vigor em agosto.

Demissões em massa e risco de novas perdas

No entanto, a indústria madeireira já demitiu cerca de 4 mil trabalhadores em todo o país, desde que a taxação foi anunciada. Outros 5,5 mil estão de férias coletivas e 1,1 mil em layoff, um reflexo da retração do mercado, que passou a ter contratos cancelados e uma queda drástica nas exportações para os EUA. De acordo com a Abimci, o volume embarcado de alguns produtos já caiu entre 35% e 50%, em agosto deste ano, na comparação com julho.
O superintendente da Abimci, Paulo Pupo, disse que a maior parte das demissões ocorreu em estados do Sul do país, que concentram a maioria das indústrias do setor.

A Associação prevê que a situação pode piorar ainda mais. Caso as tarifas persistam, o setor projeta a perda de mais 4,5 mil postos de trabalho nos próximos dois meses. A Abimci ressaltou que essa é uma consequência direta da falta de um canal de diálogo diplomático entre o governo brasileiro e o norte-americano, que poderia negociar soluções técnicas para a questão.

Empresas aguardam negociações

Segundo levantamento do setor madeireiro, somente em 2024, o Brasil exportou US$ 1,6 bilhão para os Estados Unidos e é responsável por 180 mil empregos formais. Além disso, a indústria teme que essa situação desestruture cadeias produtivas inteiras, pois o mercado americano concentra o destino, em média, de 50% da produção nacional, sendo que, em alguns segmentos, as vendas voltadas exclusivamente ao mercado norte-americano são de 100% da produção.
A Abimci informou que tem se reunido com o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e apresentado dados sobre a importância do setor para a balança comercial.

A entidade também tem defendido de forma técnica as investigações comerciais em curso nos Estados Unidos, que podem atingir ainda mais o setor, caso as negociações entre os dois países não avancem.

Paraná auxilia empresas

No Paraná, o governo do estado tem auxiliado as empresas afetadas pelas tarifas de importação impostas pelos Estados Unidos. Uma das medidas foi a liberação de R$ 300 milhões em créditos de ICMS para apoiar empresas exportadoras.
O estado também disponibilizou linhas de crédito, por meio do Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE), que somam R$ 200 milhões em crédito, com taxa de juros mais baixa e 5 anos de prazo, com 1 ano de carência. Segundo o BRDE, 38 empresas já fizeram o pedido.
A Fomento Paraná também oferece R$ 200 milhões em crédito para micro e pequenas empresas, especialmente aquelas que tiveram prejuízo. Até o momento, apenas uma empresa solicitou o auxílio à Fomento Paraná.
Além disso, empresas no programa Paraná Competitivo podem solicitar prazos de investimento mais flexíveis.
No âmbito nacional, o programa Brasil Soberano, anunciado nesta quinta-feira (18) pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), está aberto para que seja feita a solicitação de crédito do plano para empresas afetadas pelas tarifas dos Estados Unidos.
Para ter direito ao crédito do programa, conforme o BNDES, as empresas precisam verificar a elegibilidade no site do banco, com o certificado digital da empresa na plataforma gov.br. Após a autenticação, o sistema informa se a empresa pode acessar o crédito e quais soluções estão disponíveis.
Em caso de elegibilidade ao crédito do plano Brasil Soberano, a recomendação é que a empresa entre em contato com seu banco. O programa também contempla grandes empresas, que podem procurar o BNDES diretamente.
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, disse que o banco tem à disposição cerca de R$ 40 bilhões para auxiliar todas as empresas afetadas, com a condição de que mantenham os empregos.

As linhas de crédito estão disponíveis para capital de giro, investimentos em adaptação produtiva, gastos operacionais, inovação, busca de novos mercados e aquisição de equipamentos.